Evento
As relações afetivas são tema de encontro com autores
Feira do Livro leva para a Tenda Cultural os escritores Tobias Carvalho e Igor Pires
Nycolle Bettega - Público se fez presente durante toda a tarde deste domingo
O dia de sol e temperatura agradáveis movimentou a 48ª Feira do Livro de Pelotas domingo (6). A praça Coronel Pedro Osório esteve lotada de visitantes em busca de literatura, aproveitando os preços promocionais e os lançamentos promovidos pelos livreiros, e de entretenimento cultural oferecido pela programação diversificada. Na Tenda Cultural o AnimeBomb, com o desfile de cosplays, chamou a atenção do público, que manteve o espaço lotado durante toda a tarde.
A coordenação do evento não sabe precisar o número de visitantes da tarde de ontem, nem o número de volumes comercializados até agora. Entre os títulos mais procurados estão: Revolução dos bichos, Guerras 1ª e 2ª, água book, Drácula de Bram Stoker, Irmãos Grimm, Orgulho e preconceito e Diário de um banana, segundo a Câmara Pelotense do Livro, entidade organizadora do evento.
Feira do Livro prossegue nesta segunda-feira (7), a partir das 13h, com diferentes atividades, além da comercialização das obras. Uma das ações que integram a programação é o projeto Conversa com Escritores, que levará às 20h para a Tenda Cultural um bate-papo com os autores Tobias Carvalho e Igor Pires sob o tema Relações afetivas em tempos de individualismo.
De Porto Alegre, Tobias Carvalho é formado em Relações Internacionais pela UFRGS tem na bibliografia a autoria de As coisas, seu livro de estreia, que foi vencedor do Prêmio Sesc de Literatura na categoria contos. Na obra, as narrativas são todas compostas por personagens homossexuais. Ao mesmo tempo em que se conectam, as histórias se contrapõem entre si.
Natural de Guarulhos, em São Paulo, Igor Pires é um dos mais conhecidos poetas da nova geração. Seu livro de estreia é Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente, sucesso de público e crítica. Na sequência o coletivo literário TDC lançou: Onde dorme o amor (2019), O fim em doses homeopáticas (2020) e Todas as coisas que eu te escreveria se pudesse (2021). Neste mês Pires lançou Textos para tocar cicatrizes, pela editora Globo.
Em Pelotas, além de participar da Feira do Livro, Igor Pires terá encontro com jovens estudantes da escola Mário Quintana, pela manhã. À tarde o poeta fala com alunos do Nossa Senhora de Lourdes.
Poeta do amor
Em entrevista ao Diário Popular Igor Pires contou que desde criança gostava de ler e escrever, era a sua linguagem no mundo. "Enquanto as crianças estavam brincando na rua eu brincava de escrever ou estava lendo", relembra. Mas o primeiro contato com a poesia foi aos 14 anos, na biblioteca da escola, estimulado por uma professora de Língua Portuguesa que descortinou esse universo particular das escolas para a sua turma. "Foi fator primordial para que eu me entendesse como uma pessoa que gostava de poesia", diz.
Pires lembra de pegar um livro do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade e ficar encantado com a possibilidade de, "escrever as coisas do mundo de uma maneira bonita", como ele mesmo diz. "Fazer poesias nada mais é do que escrever sobre as coisas banais de uma maneira bonita." Na sua lista de autores favoritos na adolescência estavam Drummond, Clarice Lispector, Vinícius de Moraes e Fernando Pessoa, entre outros.
Paralelamente à leitura começou a escrever, tanto que os poemas logo migraram para a rede social popular entre os jovens da época, o Tumblr. "Os meus textos começaram a ganhar certa popularidade na plataforma."
Em abril de 2016, quando estava se formando no curso universitário em Publicidade, surgiu numa prosaica viagem de ônibus a expressão "textos cruéis demais para serem lidos rapidamente". Pires diz que ficou uma semana com a frase na cabeça, até que pensou em criar uma página no Facebook, usando a inspiração como título. Com um ano de projeto tinha quase um milhão de seguidores. "Um projeto despretensioso que surgiu pela minha necessidade de ser ouvido", fala.
O poeta se considera um romântico nato, uma pessoa do amor e é sobre ele que escreve. Pires confessa que, de certa forma, escreve também sobre coisas que ainda não sentiu, mas, como o ser humano é sua matéria prima fundamental, ele presta atenção nas histórias de relacionamentos que ouve. "Tô nessa busca ainda pelo amor e por estar nessa busca eu acabo escrevendo muito sobre ele. O amor é o que nos motiva e nos transforma também."
O novo livro de Igor Pires foi gestado durante os dois últimos anos. O começo dessa leva de poesias foi, claro, durante a pandemia. O poeta lembra que quando começou a escrever tinha a ideia de que as próprias cicatrizes da alma estavam curadas, mas ao longo do processo descobriu que muitas delas estavam latentes e ainda sangravam. "Eu me descobri como uma pessoa que tinha cicatrizes que eram quase feridas ainda. Desta forma, esse livro é uma mensagem no sentido de nos fazer entender que algumas cicatrizes ainda precisam de certos cuidados. A gente tende a negligenciar o nosso corpo e aquilo que ele fala, porque é mais fácil seguir sem parar para pensar. Esse é um livro para que a gente se pense e sobretudo como seres humanos com arestas ainda para serem aparadas", comenta.
Os poemas do livro se propõe a expor, colocar o dedo na cicatriz, mesmo que ela doa. "Eu não costumo fugir das minhas questões. Acho que isso é o que eu trago de mais honesto no meu trabalho."
Pires avalia que a tendência dos seres é fugir de si mesmos, principalmente porque é difícil confessar que se precisa de ajuda. "Ter uma visão clara sobre nós mesmos é reconhecer que somos seres humanos com várias cicatrizes. Acho que a terapia ajuda nesse sentido, a literatura ajuda também", diz.
Programação
Segunda-feira (7)
Atividades diversas
09h/17h - Ônibus BPP Aberto a público
13h/17h - Atividades Diversas Oficina de Escavação Museu Histórico da BPP - Bibliotheca Pública Pelotense (BPP)
14h/15h - Atividades Diversas Smed - Setor infantojuvenil da BPP
13h/17h - Exposição Fronteiras Setor de Literatura Uruguaia da BPP
14h - Atividades Literárias UCPel _ Conversa sobre livros (as poesias como expressão social), na Tenda Cultural
15h - Experiências Literárias UCPel - Bate-papo de livro (contação curiosa), Tenda Cultural
16h - Escola Senac _ professora Raquel Marasca Do Sal ao Açúcar: história dos doces tradicionais de Pelotas, Tenda Cultural
18h - Coletivo de Autores de Pelotas Jogo de dramas _ de Charlie Rayné O lixo _ de Luís Fernando Veríssimo Hortências de agosto _ de Joice Lima, na Tenda Cultural
19h - Sessão de Autógrafos Obras e Autores na Última Página Literatura, na Tenda Cultural
19h - Abertura Oficial da Jornada Cultural Mario Osório Magalhães Lançamento do Prêmio BPP de Letras e Apresentação da Orquestra do Instituto Dom Antônio Zattera, na BPP
20h - Conversa com Escritores
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